Sobre a Peça

Clair quer ser beijada, mas não agora e não pelo seu marido. Christopher muda de emprego e, para comemorar, pretende colocar a família num carro e pegar a rodovia na contramão. Jenny sofre com o desconforto de seus sapatos e não sabe por que os está calçando. Sob a superfície dos pequenos dramas de uma tradutora, um marido, uma filha e uma vizinha, Martin Crimp cria um enigmático jogo em que os piores pesadelos da vida doméstica são sutilmente sugeridos, mas jamais chegam a ser completamente revelados.

Lilyan de Souza (Clair) e Márcio Mattana (Christopher).
fotografia: Anderson Fregolente

Lançada em 2008, A Cidade (The City) é a obra mais recente de Martin Crimp, um dos mais importantes dramaturgos contemporâneos da Europa, o mesmo autor de obras singulares como Atentados (Attempts on her Life) e Menos Emergências (Fewer Emergencies).

A estrutura da peça responde a The Country, “um huis clos em cinco sequências em que um casal vê seu equilíbrio sucumbir repentinamente pela presença de uma terceira personagem”. O tom geral oscila entre a ironia cruel e a tensão controlada.

Nas palavras do autor, a obra propõe “uma reflexão sobre o nosso mundo de aparências, repleto de telas midiáticas, seduzido por políticas superficiais, que perderam toda profundidade, toda noção de engajamento. Eu busquei uma forma que traduzisse, na própria escritura, esse desdobramento em direção a uma sociedade superficial. Eu parti da situação banal de um casal com duas crianças, e depois eu me aprofundei nos interstícios, por detrás das imagens, para atingir as regiões mais submersas”.